Onde ficava a capela de Santo António do Penedo
O atual largo do Primeiro de Dezembro teve, antigamente, várias denominações. A primeira foi a de Carvalhos do Monte, ou simplesmente o Monte, como consta de alguns documentos.
"O Monte junto a Vale de Asna", lê-se num testamento do ano de 1316 o que atesta a antiguidade do nome.
O Vale de Asna compreendia todos os terrenos que ficavam a nascente do Monte dos Carvalhos, da parte de fora da muralha fernandina, onde, posteriormente, se rasgaram as ruas de Augusto Rosa, do Sol, de Alexandre Herculano, do Duque de Loulé, de S. Luís e o largo do Ator Dias.
Em 1416, por iniciativa do rei D. João I, construiu-se, nos Carvalhos do Monte, o mosteiro das freiras clarissas (de Santa Clara) da ordem de S. Francisco. O largo fronteiro ao convento passou a chamar-se largo, terreiro ou rossio de Santa Clara.
A partir do século XVI o antigo sítio dos Carvalhos do Monte voltou a mudar de nome. Passou a ser designado por largo do Penedo, de Santo António, ou, de Santo António do Penedo, por causa de uma capela que fora construída sobre um penedo e que tinha aquele santo como patrono.
Esta pequena ermida, demolida entre 1886 e 1887, é que deu origem à belíssima igreja de Santo António dos Congregados.
O Porto do tempo em que nos Carvalhos do Monte se construiu o mosteiro de Santa Clara, no século XV, portanto, limitava-se a duas colinas: a da Sé, ou da Penaventosa; e a da Vitória, separadas, entre si, por um rio, o rio da Vila. Ambas estavam já protegidas por uma sólida e alta cinta de muralhas acabadas de construir - as chamadas muralhas fernandinas.
A poente do rio da Vila, mas dentro do perímetro amuralhado, ficavam, com as respetivas cercas, os mosteiros de S. Domingos e de S. Francisco, que já vinham do século XIII. Ao redor deles viam-se muito poucas construções. Havia apenas grandes manchas de verdura: hortas, pomares, soutos, olivais, jardins. E como que a dividir essas parcelas, apareciam sinuosas vias e comunicação, verdadeiros caminhos rústicos que, muitos anos mais tarde viriam a ser transformados em ruas autênticas, como é o caso das ruas do Souto, Belomonte, Vitória, Caldeireiros e de "O Comércio do Porto"'.
E da parte de fora da muralha, que paisagem encontrava o viandante ou o peregrino que por ali se aventurava? Da parte de fora dos muros defensivos, para além dos montes da Sé e da Vitória, toda a vasta zona que hoje integra por inteiro a cidade estava coberta por olivais, laranjais, pomares, pinhais; por várias quintas, bastante isoladas umas das outras; por casais e algumas aldeias como as de Aldoar, de Campanhã e da Foz. E a velhinha igreja de Cedofeita, onde os cónegos viviam, recolhidos, em comunidade, ficava muito longe da cidade, como que perdida na vastidão dos campos.
O atual arranjo urbanístico do antigo rossio de Santa Clara é dos meados do século XIX e anda ligado, de certo modo, à construção da ponte de Luís I.
Com essas obras destruiu-se um dos mais belos e pitorescos recantos da cidade setecentista, incluindo a demolição da porta do Sol que era uma belíssima obra da arquitetura do tempo dos Almadas. Começara a ser construída em 1767, por iniciativa de João de Almada e Melo. Substituíra, na muralha fernandina, o velho postigo da Santo António do Penedo ou de Santa Clara, como por vezes também era mencionado. Dizem os biógrafos de João de Almada que, com a construção desta porta, ele pretendera erguer no Porto uma espécie de arco do triunfo com o qual glorificava D. José I.
A Rua de Saraiva de Carvalho começou a ser rasgada em 1885. A nova artéria foi construída para possibilitar uma ligação rápida e direta entre o tabuleiro superior da ponte de Luís I, do lado do Porto, claro, e a então denominada Rua da Batalha, atual Rua de Augusto Rosa.
As obras para a concretização do novo empreendimento sacrificaram uma boa parte da antiquíssima Rua Chã das Eiras, hoje apenas Rua Chã. Esta artéria, antes das obras, ligava diretamente com o cimo da Rua do Corpo da Guarda. A parte entre este ponto e a esquina da Rua de Saraiva de Carvalho desapareceu, pura e simplesmente. Têm sido feitas referências nesta crónica à muralha fernandina, começada a construir em 1355, no tempo de D. Afonso IV, e terminada em 1370, no reinado de D. Fernando e daí o nome. Na parte dos Guindais a cerca do convento das clarissas ficava do lado de dentro do muro. A última torre foi, inclusive, adaptada pelas freiras em mirante e o panorama que dali se abarcava era, simplesmente, deslumbrante. JORNAL DE NOTÍCIAS 21 JUL, 2013